COMPARATIVOS/TESTES TRANSALP

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Senegal 2011

RUMO AO SENEGAL…
Dia 11 de Junho, saímos de casa em direcção a Tânger, Marrocos, naquela que seria a primeira etapa desta nossa aventura, foram 920 km quase sempre por auto-estrada e sem qualquer percalço.
Dia 12 acordamos já em território marroquino e fizemos mais 850 km por auto-estrada até ao parque de campismo de Agadir, cidade costeira com belas praias.
Estávamos com um bom andamento e a sensação de andar em cima da mota do nascer ao pôr-do-sol é boa e desperta-nos os sentidos para outra realidade.
Dia 13 e de Agadir seguimos para Layonne, 600km nos separavam do território do Sahara Ocidental, que é para mim a melhor parte para andar de mota e “desligar o cérebro” com longas rectas e paisagens desérticas com o atlântico como companhia.   
 Dia 14, 850km, deixamos Layonne para trás e tínhamos como objectivo a cidade do kite-surf, Daklha que fica numa península e onde passamos férias o ano passado, mas decidimos dar mais um adianto e pernoitamos num hotel já muito perto da fronteira com a Mauritânia.
O bidão de gasolina extra que levei teve que ser usado, não por falta de gasolina nas bombas como costumam dizer mas por simples descuido, o vento que bate forte na mota e a obriga a andar com uma inclinação considerável e a areia fininha que entra por todo o lado, fazem parte desta travessia e se formos com um espírito positivo até se torna bastante engraçado, como foi o caso, limpar o filtro de ar é que foi obrigatório devido ao consumo de 10 litros aos 100, a areia não perdoa.
Nesta etapa, tempo ainda para passar pelo famoso cabo Bojador que nos trouxe boas recordações da primeira vez que lá estivemos.
  Dia 15, 650km, acordamos cedo, tomamos um pequeno-almoço pouco turístico e seguimos para a fronteira da Mauritânia, estávamos algo receosos com a famosa travessia da chamada “terra de ninguém”, que são cerca de 3 km´s de terreno acidentado entre as duas fronteiras com avisos sobre possíveis minas.
 Relatos que li sobre “atascanços” na areia, esquemas de piratas, etc, não se vieram a confirmar, até porque apesar de o terreno ser acidentado com alguma areia faz-se sem problemas, fui parado por uns indivíduos que me falaram em francês, mas não percebi nada nem o que queriam e respondi no meu francês arcaico “ne pa problem, merci” e arranquei sem que ninguém mais me chateasse, sorte de principiante… talvez e ainda bem.
 Na fronteira demoramos cerca de três horas para passar e pagamos 10 euros á policia (sem papel), 10 euros ao gajo que me tratou dos impressos e 20 euros para um seguro que não serve para nada mas é obrigatório.
A fronteira é bem diferente de Marrocos, com pouca organização e bastante desmazelada.
Finalmente estávamos na Mauritânia e tudo era novidade, logo a entrada passamos pela linha do que dizem ser o maior comboio do mundo e tivemos a sorte de o fotografar.
Decidimos fazer um desvio até a cidade de Nouadhibou para almoçar e á passagem pelo primeiro posto policial fomos logo extorquidos, o polícia agarrou-me no braço e disse-me que só ali passava se pagasse 10 euros, o que acabei por fazer… que remédio.
O almoço resumiu-se a uma sande de queijo porque sinceramente era tudo tão estranho para nós que não deu para mais, muito lixo, centenas de cabras por todo o lado e um cheiro a podre intenso e goste-se ou não é a realidade, também não esperávamos outra coisa, mas estar lá ou ouvir falar é muito diferente.
Estava na hora de seguir até á capital Nouakchott e fizemo-nos á estrada sem mais demoras com um calor abrasador que se intensificava á medida que nos afastava-mos da costa, o vento
forte queimava a cara e os fatos e capacetes pretos ajudaram a uma situação muito complicada que nos obrigou a uma paragem forçada junto de um posto da policia.
Os simpáticos habitantes locais apercebendo-se da nossa situação ofereceram-nos chã e água e informaram-nos que estavam cerca de 50 graus, deixando-nos estar á vontade dentro de uma modesta mas preciosa habitação.
Ao fim de mais de três horas e com uma temperatura mais amena lá continuamos caminho, só que agora de noite.
Os camiões com os máximos ligados e a falta de sinalização na estrada tornaram esta etapa muito complicada e quando parávamos nos controles policiais éramos sempre aconselhados a dormir junto dos postos, diziam eles por questões de segurança e não me pareceu que fosse segurança rodoviária, chegaram mesmo a dar-nos o número de telefone para qualquer problema e mais do que uma vez nos disseram para não sair da estrada.
Não deve ser todos os dias que um casal de portugueses atravessa a Mauritânia de mota durante a noite.
Na entrada de Nouakchott às 11.00 da noite, mais um controle policial que demorou mais um bocado do que o normal por já não termos fichas de identificação e a policia ter de escrever tudo á mão no catrapasso que usam para o efeito.
Enquanto esperávamos pelos passaportes surgem dois indivíduos num Mercedes a oferecerem-se para nos indicar um hotel e que já nos tinham visto na fronteira e sabiam que éramos portugueses, extremamente cansados que estávamos lá aceitamos a “ajuda” e seguimos para um hotel, que até era bastante agradável.
O problema foi o telefonema que o indivíduo fez para os colegas da fronteira a avisar da intenção que tínhamos de atravessar para o Senegal e rapidamente começaram as negociações para o que tínhamos de pagar, não demos grande importância e decidimos que depois logo se via.
  Dia 16, 350km e acordávamos naquela que até á data foi a cidade mais confusa onde estivemos com um
transito infernal, muita areia e cabras por todo o lado, a gasolina tinha um cheiro muito intenso que misturado com o fumo dos carros completamente podres, carroças, burros e alguns carros de luxo tornavam o ar  pesado e para todo o lado que olhávamos só víamos barracas cheias de moscas e lixo.
Sem duvida uma cidade com características muito próprias mas muito diferentes daquilo que um comum europeu está habituado, apesar de a cidade ter locais agradáveis, mas que só descobrimos no regresso.
A partir deste ponto a paisagem vai mudando com a areia a ficar mais avermelhada e a misturar-se com alguma vegetação, a estrada também vai piorando e os veículos abandonados nas bermas, uns acidentados outros incendiados e virados ao contrário e a quantidade de lonas de pneus por toda a estrada tornao o ambiente algo hostil.
  Os postos policiais acompanham o estado da estrada e os polícias apesar de serem sempre simpáticos apresentam-se com as fardas muito desleixadas, chegando ao ponto de enquanto um escrevia os nossos dados, outros dois no chão desfaziam com uma faca uma cabra para o almoço, mas são estas pequenas experiências que vão fazendo desta viagem especial.
A cerca de 80 km´s da localidade de Rosso fomos abordados pelos tais indivíduos que já tinham sido avisados da nossa presença em Noaukchott e lá seguimos atrás deles até a confusa e caótica fronteira.
Ao chegar a Rosso eram centenas de pessoas que nos rodeavam a oferecer-se para tratar dos papéis, o ambiente em redor era decadente.
A portão que dá acesso á fronteira só abria as 15:00 e ainda eram 13:30 quando nos encaminharam para um local que de restaurante só tinha o nome, bebemos duas Coca-Colas e para não sermos desagradáveis dissemos que já tínhamos almoçado, ficando eu com a ideia que não se acreditaram mas apesar de não sermos pessoas muito exigentes aquele sítio era mesmo mau.
Chegado às 15:00 fomos para a fronteira e passamos três horas a espera que nos tratassem da burocrática, lenta e complicada “papelada”, sempre rodeados por muita gente como se fossemos seres de outro planeta, chateiam, tentam vender algo, fazem muitas perguntas e estão em total conivência com os supostos polícias fronteiriços.
Entrar finalmente no batelão que atravessa o rio que faz de fronteira natural entre os dois países foi um alívio momentâneo e deu para curtir a brisa que se fazia sentir num ambiente de grande calor, quase sufocante.
Fomos enlatados como duas salsichas e ao chegar ao Senegal deparamo-nos com uma fronteira ainda pior que a anterior, cansados, com fome e cheios de calor lá aguentamos mais três horas no meio de barracas todas podres para poder seguir viagem.
No Senegal veículos com mais de cinco anos só podem circular com o chamado “carnet”, mas como em Portugal o ACP é que trata disso e custa 500 euros decidimos arriscar e não levamos.
 Ao fim de muita negociação e até a ameaça que me queria ir embora ficou tudo já com o seguro para a mota por cerca de 200 euros, um valor muito alto mas devido á nossa vulnerabilidade teve que ser.
A única situação positiva que me recordo da fronteira foi um rapaz moçambicano que num português correcto me disse que tínhamos a mesma língua e por isso éramos irmãos e que se precisa-se de algo para falar com ele, soube bem ouvir aquelas palavras depois de tanto “massacre”.
Finalmente estávamos livres e eram 20:30 quando começamos a andar no Senegal, a estrada estava em obras e tivemos que ir por um desvio em terra de cerca de 130 km´s até á cidade de S. Louis, antiga colónia francesa, chegamos a um hotel por volta das 23:00 depois de mais uma complicada ligação nocturna.
No hotel já não havia nada para jantar e tivemos que comer uns bocados de pão seco, mas também estávamos tão cansados que foi cair na cama e aterrar completamente.
Dia 17, e após seis dias basicamente em cima da mota acordámos no Senegal na já chamada África negra.
Tudo era uma grande novidade, até porque de noite não conseguimos ver nada, mas quando começamos a andar gostamos do que vimos, uma cidade com grandes contrastes entre o passado colonial francês e a actualidade, muita confusão de transito, autocarros muito coloridos, um povo simpático e alegre e as mulheres com uma aparência diferente do que tínhamos visto até aqui, altas e esguias que são apelidadas de "gaselas de duas patas", sim porque também há a cerveja Gazelle, bem boa por acaso. 
  Só tínhamos autorização para circular no Senegal por 48 horas e se quiséssemos prolongar o “pass-avat” teríamos que ir até Dakar que até era a ideia original e a distância era curta, mas acontece que depois da má experiência das fronteiras queríamos era um bocado de sossego e decidimos visitar dois parques que tínhamos ouvido falar.
O primeiro perto do hotel onde estávamos, que se chamava Langue de Barbarie e da parte da tarde a reserva de Bandia que fica a cerca de 60 km´s de Dakar.
No total, ida e volta fizemos cerca de 450 km´s e já deu para ver um bocado da realidade senegalesa.
A estrada está bem alcatroada e nas bermas há sempre muita fruta para vender, assim como muito artesanato local.
 Para variar, o regresso já de noite é que não foi muito agradável e tem que se ter uma condução ultra defensiva.
Na estrada tivemos o primeiro contacto com a policia senegalesa e que acabou com o pagamento de uma multa, supostamente porque ao que ele disse teria que ter dado o pisca, mas o mais engraçado é que era uma recta enorme e não ia sequer a ultrapassar ninguém.
Os parques apesar de muito turísticos são muito bonitos e podem-se avistar alguns animais, mas principalmente o som da enorme variedade de aves que lá habitam tornam o ambiente fantástico.
 Chegados á Reserva de Bandia na localidade de Mbour eram precisamente 18:15 e a desilusão foi total quando fomos informados que tinha fechado as 18:00, ainda insisti com o guarda dizendo-lhe que no dia seguinte tínhamos que ir embora mas já não havia hipótese.
De qualquer das maneiras como ele era um tipo porreiro ainda nos levou a ver um bocado do parque e foi melhor que nada, os sons, os cheiros, jamais esqueceremos.
No dia seguinte,estava na hora de regressar a casa e pela frente tínhamos basicamente o inverso do que fizemos para baixo (cerca de 5000KM) mesmo assim ainda passamos por algumas peripécias que ficam para uma segunda parte deste relato. 
 CONTINUA...

5 comentários:

JFAlves disse...

Estas vossas aventuras estão cada vez mais ... aventurescas!
Fico a aguardar a segunda parte da viagem.
Grande abraço.

Anónimo disse...

Tu bates mal men ;)

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Eu estava numa rodovia do Senegal entre Matam e Linguère a uns 120 km da Mauritânia. Neste trecho a estrada é boa, pavimento novo. A paisagem é magnífica, uma longa tangente rodoviária na solidão da imensidão nivelada silto arenosa, parquíssima vegetação gramínea e altivas árvores esparsas frondosas e robustas, paraíso de raposas e animais notívagos. Até aí tudo bem, mas há um contraste entre a robustez da estrada e solitários flagelados que choram sozinhos à beira dela. O súbito, ilustre e fugaz viajante na sua pick-up suntuosa é um script secularista. A verdade pode estar paradoxalmente na simplicidade de vida daqueles flagelados que de pés no chão perderam esta vida transitória, como a estrada, para ganhar outra definitiva que o mundo secularista subestima e debocha...:)