COMPARATIVOS/TESTES TRANSALP

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Porto-Dakhla 2010 Lua-de-Mel

Uma lua-de-mel á nossa maneira com o regresso pela segunda vez este ano a Marrocos e entrada na zona do Sahara Ocidental marroquino.
Foi uma viagem inesquecível, onde não há um único ponto negativo a apontar, pelo menos de grande relevância.
O plano resumia-se a passar por El-Jadida para visitar amigos que fizemos na ultima passagem, visitar o cabo Bojador pela sua importância histórica para todos os portugueses (pelo menos para a maioria), visitar Dakhla e acabar em beleza nas dunas em Er-Chebi num total de cerca de 7000 km.
Sem qualquer tipo de marcação prévia o plano foi conseguido e tudo correu 5 estrelas. 
 Atravessar para Marrocos ao fim da tarde tem sempre o seu lado romântico, ainda para mais sabendo que ali tão perto está África, do norte é certo, mas é África... e os contrastes são enormes, são belos e apaixonantes.
  1º dia, Porto-Elvas
7 de Setembro, saímos de casa com o habitual atraso,ou seja já ao fim da tarde com chegada á histórica cidade de Elvas por volta das 23:00.
2º dia, Elvas - Tanger
Chegada á noite e dormida num hotel indicado por um homem que se fartou de correr á frente da mota, coisa normal nas grandes cidades, claro que a "gorja" é quase obrigatória, mas sem stress, na fronteira é que apanhamos grande seca, os policias foram todos jantar e não ficou ninguém para tratar da papelada, a explicação é simples, era altura do Ramadão e quando o sol se põe é grande festa.
3ª dia, Tanger-El Jadida
Começamos a descobrir a belíssima costa marroquina.
 Precisamente no ultimo dia do Ramadão chegamos a El-Jadida ao fim da tarde e com um forte tiro de canhão foi anunciado o fim desse período religioso, a Transalp é que se estava a queixar com o rolamento da roda traseira a dar as ultimas.
Fomos ter com os nossos amigos que vivem dentro das muralhas da antiga cidade portuguesa Mazagão,  fomos recebidos de braços abertos e mesmo ali na rua foi colocada uma mesa para jantarmos e festejarmos com eles uma importante data, a comida estava 5 estrelas, havia muita gente na rua a cumprimentar-se e a partilhar o jantar num ambiente harmonioso, foi uma honra poder viver esse momento com gente tão boa e ainda por cima num lugar com tanto simbolismo para Portugal.
Já diz o velho ditado que quem tem amigos não morre na cadeia e perto da meia-noite a Transalp já tinha um rolamento novo, claro que primeiro o meu amigo levou-me a várias oficinas e fez para aí 10 telefonemas para que tudo se resolvesse, mas em Marrocos ninguém fica mal.
  4º dia El-Jadida Tarhazoute (Agadir)
 Por estradas fantásticas e praias desertas cumprimos mais uma etapa que se resume basicamente a andar o dia todo em cima da mota e dormir onde calhar, neste caso foi num parque de campismo com acesso á praia e nós como únicos hospedes, o pôr-do-sol marca sempre o final do nosso dia de cerca de 500 km.
Fomos jantar a Agadir, mas sinceramente o trânsito marroquino põe-me maluco e tenho que pôr em prática a minha condução de estafeta para me safar por entre tanta confusão, a Joana é que bate mal com isso...
  5º dia Tarhazoute-El Outia
Depois de pagar-mos 90 dh pelo parque de campismo fizemo-nos á estrada atravessando uma parte montanhosa com umas vistas magnificas e começamos a descer para uma planície que já nos dava um "cheirinho do deserto", a partir daqui começamos a ver jipes Land Rover Santana bastante antigos e com todo o tipo de carga no tejadilho, nas bermas da estrada começaram a aparecer os primeiros camelos.
A noite tinha-nos reservado uma estadia num bangalow com vista para o mar e apesar de o sol estar quase a pôr-se ainda tivemos tempo para o primeiro mergulho nas águas quentes da costa africana.
6º dia El-ouatia-Cabo Bojador(Boujdour)
A partir daqui entramos na zona do Sahara Ocidental e o deserto mostra-se com todo o seu esplendor, o calor aperta e as paragens policias começam com as perguntas obrigatórias para preencher no formulário, nacionalidade, profissão, destino e proveniência, umas vezes é rápido outras não, mas sempre tudo na boa principalmente quando dizíamos que éramos portugueses, todos os policias davam um sorriso e eram simpáticos, alguns falavam do Ronaldo e Mourinho, acho que nos curtem, são boa gente.
Para quem gosta de rolar em rectas que parecem não ter fim, aqui é o sitio ideal, pode-se voar...
 Tínhamos chegado ao Cabo Bojador, uma pequena cidade com gente simpática.
 Dos poucos hotéis existentes escolhemos um á sorte, perguntamos se tinha garagem para a mota e disseram-nos prontamente que sim, só que resumia-se a um espaço por baixo do hotel com um portão que já não abria á séculos e dois enormes degraus á entrada.
Perante alguma hesitação minha em frente ao portão começou a criar-se um ajuntamento junto da mota para me ver subir, mas como a transalp não se corta a nada, foi dar gás e subir, bateu com força por baixo que até partiu um degrau e deixou mais umas moças na protecção de cárter, mas subiu e os miúdos até bateram palmas, foi porreiro.
Do que mais gosto em Marrocos é mesmo isto, nunca dizem que não há ou que não têm, desenrascam sempre alguma coisa.
Monumento que assinala o grande feito do navegador português Gil Eanes que foi o primeiro navegador do mundo a atravessar este dificil cabo e assim abrir caminho para a expansão marítima portuguesa na descoberta de novos mundos, infelizmente está a cair e não tem nenhuma placa identificativa, mas é na mesma um orgulho.
  7º dia Cabo Bojador-Dakhla
 Estávamos perto do nosso destino, mas sem dúvida que foi a parte mais inóspita que atravessamos, com um calor infernal, o céu encoberto, ventos muito fortes que obrigam a mota a andar bastante inclinada, deserto e mais deserto com paisagens a dar um ar de "Mad Max", gasolina a 0,70 euros, espectáculo.
Chegamos a Dakhla, o paraíso para o pessoal do Kite-Surf, Dakhla fica numa pequena península, tem imensos quartéis e militares por todo o lado, o hotel não foi barato mas para as condições que oferece vale bem o dinheiro, estávamos no paraíso com uma praia privativa e uma piscina com agua do mar.  
Depois de 3200 KM tivemos o merecido descanso e ficamos em Dakhla 2 dias, aproveitando para conhecer as redondezas. 
O que mais nos impressionou foi uma praia com milhares de caranguejos na areia, ao longe eram uma autentica mancha escura, nunca tinha visto nada do género. 
 9º dia Dakhla-El-Ouatia    
A partir de aqui iniciamos o regresso, apesar de a vontade ser continuar para a Mauritânia, já não tínhamos muito tempo e ainda queríamos ir a Merzouga queimar os últimos cartuchos e decidimos ir directos para El-Ouatia para ganhar tempo mas entramos pela noite dentro e rolar em estradas com a areia a invadir as bermas, os camiões com os máximos sempre ligados a fazerem ultrapassagens em curvas sem visibilidade fizeram desta etapa uma aventura, com alguns sustos pelo meio felizmente correu bem, fizemos perto de 1000 KM, compramos alguma fruta e uns iogurtes e fomos descansar.

10º dia El-Ouatia- Igherm (anti-atlas)
A ideia deste dia era ir directo até as gargantas do Dadès mas em Tiznit seguimos o conselho que nos deram de fazer umas estradas de montanha que era mais bonito e tal, de facto era, só que demoramos muita mais tempo e lá estávamos nós a rolar novamente á noite.
Precisamente em Igherm, uma pequena aldeia de montanha, fomos mandados parar pela policia que nos aconselhou a dormir por ali porque as estradas não estavam em condições devido as enxurradas provocadas pela chuva.
O único hotel teve que servir, não era grande coisa mas ainda bem que fomos lá parar porque se tivéssemos continuado com certeza que iríamos ter problemas.
 11º dia Igherm-Dadès Gorge
O que parecia ser uma ligação fácil com passagem pela muito turística cidade de Ouarzazate, acabou por se complicar, primeiro pelas fortes chuvadas que apanhamos e depois por um corte de estrada que nos atrasou cerca de 3 horas, foi contudo uma situação engraçada quando chegamos a uma parte que a agua cobria completamente a estrada e o pessoal que ia chegando já habituado á situação aproveitava para rezar e dormir, enquanto outros filmavam a cena divertidos, quando a água começou a acalmar os camiões começaram a passar mas mesmo assim houve situações cómicas, como uma carrinha avariar no meio da travessia e o Fiat uno que lhe seguia começar a ser levado pela água mas prontamente encostar a frente á carrinha e empurra-a até ao fim.
Estava  uma grande confusão para ver quem passava primeiro e deixei-me ficar para o fim para assegurar que a Transalp passava sem problemas, a Joana foi dentro de um carro de um marroquino que vivia em Espanha e com quem trocamos umas ideias.
Marrocos é mesmo assim, ninguém fica mal, toda a gente ajuda é do melhor. 
  12º diaDadès Gorge-Merzouga
 Já tínhamos estado aqui perto no Todra mas faltava-nos ver esta parte e foi o que fizemos logo pela manhã, antes de arrancarmos para o deserto.
A paisagem é estrondosa e na estrada os motociclistas eram muitos a curtir as curvas, maioritariamente em GS com toda aquela "parafernália" que eles levam, mas vi também algumas TA e AT, motos de pista é que não vi nenhuma, mas também não admira, essas costumam ver-se mais lá para Agosto. 
4 Meses depois chegava-mos novamente a uma zona do deserto conhecida como Erg-Chebi (grande duna, em português) para acabarmos em grande a nossa lua-de-mel.
Escolhemos um bom Albergue com piscina e passamos dois dias em grande num lugar único, magico...
 Para chegar a este albergue enganei-me na pista e enterrei a mota duas vezes e caí mais umas quantas, o mais engraçado foi quando tive que parar um bocado para descansar em cima da mota porque nem no descanso a podia pôr e aparece um homem a vender-me cenas, comprei-lhe um cinzeiro e ele ajudou-me a tirar dali a mota, cheguei ao albergue quase a desmaiar e cheio de sede, bebi o chá que me deram de golada com o pessoal a olhar para mim e a perguntar se estava tudo bem, foi engraçado. 
 No dia a seguir fomos até Merzouga dar uma volta e comprar tabaco, paramos na porta de uma mercearia e travamos conversa com um marroquino que tinha vivido em Portugal e precisamente na nossa rua, foi uma grande coincidência e uma boa sensação trocarmos ideias e falarmos de Portugal.
Acabamos a beber um chá delicioso em casa dele enquanto lá fora havia uma autêntica tempestade de areia que levou tudo pelo ar, inclusive os capacetes.
Na casa dele que também servia de hotel para turismo tinha lá a bandeira de Portugal que ele trouxe com prazer, apesar da experiência de trabalho de 4 anos que teve em Portugal não ter sido a melhor.
tempo ainda para ver um lagarto do deserto que fugia á frente da mota. 
  14º dia Merzouga-Tanger
Custa dizer adeus a Marrocos mas agora tinha mesmo que ser e fizemos mais um esticão de 1000 KM até Tanger, aproveitando as auto-estradas possíveis.
Este dia ficou marcado pelo inesperado encontro com os macacos que andam á solta na conhecida floresta dos cedros já no norte de Marrocos.
  15º dia Tanger-Porto Cidade INVICTA
Sem grande história foram mais 1000 KM até casa com uma grande e enriquecedora experiência na mala.

 Marrocos ficou-nos no coração e muito mais havia para contar mas nem sempre é fácil, contudo fica a certeza que um dia havemos de lá voltar e dedico esta pequena crónica á Joana que é sem duvida a grande merecedora de aplausos por nunca se negar de fazer tantos km´s sentada no banco de trás da nossa querida TRANSALP. 

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